Um dos melhores encontros online de gestores financeiros do Brasil aborda o impacto do blockchain no mundo empresarial. Tecnologia é tão revolucionária quanto a internet.
Blockchain é uma tecnologia disruptiva que tem como premissa a descentralização de registros das transações entre os participantes de uma determinada rede, prescindindo da presença de uma terceira parte legitimadora dessas transações. É a tecnologia que está por trás do bitcoin e ethereum, mas é algo muito além das criptomoedas.
O bitcoin prevê a descentralização do dinheiro, cuja transação pode ser realizada de forma virtual, sem intervenção de uma entidade ou banco. O ethereum permite a descentralização de transações tangíveis e intangíveis, configurando-se como a primeira rede que vai além de transações comerciais por moedas.
“O blockchain é um livro-razão digital distribuído que armazena os registros de transações de qualquer coisa de valor. Pode ser do tipo público, privado, híbrido ou consórcio. É a descentralização de registros”, conclui Maria Clara Verçosa, Product Lead de Rastreabilidade na Blockforce, ao esclarecer o conceito de blockchain na terceira edição do CFO Evolution, encontro online de gestores financeiros organizado pela Moore que abordou essa tecnologia no contexto empresarial (Enterprise Blockchain).
Como o blockchain funciona
O blockchain é uma tecnologia que funciona como o próprio nome, em inglês, propõe: uma cadeia (chain) de blocos de informações (block), que serve para simplificar transações complexas, compartilhando dados de maneira mais transparente, rápida e segura, reduzindo custos de processamento e tempo nas relações de negócio entre pessoas e empresas.
É uma tecnologia usada para registrar dados e valores envolvidos na produção de bens ou serviços de forma online, por meio de blocos que contém um histórico criptografado em cada um deles, que formam o “DNA” da sequência de transações nessas cadeias de valor. Por meio do blockchain, empresas envolvidas em uma mesma cadeia produtiva e de logística, por exemplo, podem rastrear, em tempo real, todos os processos realizados de ponta a ponta, desde o produtor primário até o consumidor final, sem correr o risco de alterações póstumas das informações.
Na terceira edição deste ano do CFO Evolution, Verçosa narrou um caso de uso do blockchain por uma cadeia de suprimentos, em que todas as empresas envolvidas precisavam monitorar um processo de exportação. Diante do risco de não conformidade com a legislação dos países envolvidos, que poderia implicar até mesmo no direito de exportar, qualquer erro de documentação poderia ser fatal. O acompanhamento sistêmico do passo a passo realizado por cada empresa nesse processo era imprescindível, fazendo com que o grupo optasse por uma plataforma de blockchain, por conta de sua inviolabilidade dos registros das transações envolvidas.
Verçosa explicou que a plataforma conseguiu reduzir o tempo de preparação das documentações pela metade, além da redução dos riscos de autuações, deixando os produtos prontos para exportar de forma muito mais rápida, com um custo menor de armazenagem. Ela elencou as características da plataforma determinantes para esse sucesso: criptografia, consenso, imutabilidade, proveniência, acesso aos eventos em tempo real, regras de negócio escritas em código (contratos inteligentes) e acesso de acordo com o perfil.
Por que os gestores financeiros devem ficar de olho no blockchain?
O caso da cadeia de suprimentos narrado por Verçosa durante o CFO Evolution e comentado acima desperta a atenção dos profissionais de finanças sobre como o blockchain pode impactar no desempenho dos negócios, afinal a solução implementada no caso reduziu tempo e custos no processo de exportação, impactando em resultado para as empresas envolvidas.
Marcus Lindgren, sócio da Moore, explica que numa visão estratégica, essa redução dos prazos das etapas burocráticas/documentais traz um efeito favorável no Ciclo de Conversão de Caixa (CCC). Reduzir o CCC é, ou deveria ser, foco estratégico das organizações, por aumentar a eficiência da gestão financeira, em especial para empresas em expansão. O CCC foi tema de edições anteriores do CFO Evolution, repercutindo em dois episódios do CFO Evolution Cast:
- #01 Usando o CCC para entregar valor ao acionista; e
- #02 Redução do CCC e seu impacto na rentabilidade da empresa.
O CFO Evolution Cast é o podcast da Moore para líderes da área de finanças.
Blockchain e ERP
Para Lindgren, o blockchain está para um arranjo interorganizacional assim como o ERP está para uma organização. O blockchain é desenhado para cadeias de valor, integrando várias empresas, enquanto o ERP é desenhado para uma única organização, conectando áreas funcionais e departamentos para uma gestão integrada.
O blockchain só faz sentido quando temos uma cadeia de valor, ou seja, várias empresas, várias organizações que interagem entre si na construção de valor para o seu cliente final. É uma tecnologia com potencialidade para fazer a gestão integrada dessas cadeias de valor, conclui.
Lindgren é autor da dissertação de mestrado “Governança corporativa no contexto do blockchain: o desafio não é a tecnologia, é a rede” pela FDC . Para ele, “o blockchain deve causar um impacto na economia mundial mais relevante do que o impacto da internet e do ERP no fim dos anos 90”.
Barreiras para a implementação do blockchain
Para Murilo Guimarães, Superintendente de Operações de Crédito do Inter e painelista junto com Verçosa na edição do CFO Evolution que abordou o blockchain, a falta de conhecimento sobre o assunto acaba sendo uma barreira de implementação dessa tecnologia pelas empresas:
O blockchain ainda é um tema muito distante da realidade, mas surgindo aplicações e cases, é natural que a evolução aconteça. Lembremos que outras tecnologias como internet e telefone celular demoraram décadas para se consolidarem e se tornarem onipresentes. O blockchain vai passar pelo mesmo processo, conclui.
Outra barreira citada por Guimarães diz respeito a definições regulatórias, diante da possibilidade do blockchain em operacionalizar de forma integrada sistemas de diversos segmentos, como bancário, e-commerce, logística, serviços etc. “É preciso definir com clareza o papel dos participantes nesse ecossistema”, diz.
Uso do blockchain para gestão de riscos por instituições financeiras
Guimarães é autor de uma dissertação de mestrado pela FDC sobre o uso do blockchain em desconto de duplicatas e defende a importância de aplicação do estudo acadêmico à prática. Seu painel durante o CFO Evolution abordou partes dessa dissertação, contribuindo para o entendimento do uso de blockchain por instituições financeiras na gestão de riscos de crédito nas operações de desconto de duplicatas. Neste vídeo, você pode conferir a abordagem completa do caso.
Afinal, como estamos caminhando em relação ao Enterprise Blockchain
Em resumo, a terceira edição de 2022 do CFO Evolution produziu um fórum essencial sobre como o Enterprise Blockchain pode contribuir para a evolução dos negócios.
Além de trazer casos práticos narrados por especialistas, o evento respondeu a dúvidas preeminentes sobre o assunto, especialmente em relação às implicações práticas dessa tecnologia emergente no universo empresarial e das finanças corporativas. “Tem muita coisa a ser desenvolvida, testada e validada para que o blockchain possa ser mais presente nos negócios, pensando em um mundo mais transparente e colaborativo”, diz Verçosa.
Para deixar esse tema ainda mais palatável, os criptoativos, a tributação e para onde estamos caminhando com o tema das finanças descentralizadas permeiam o debate deste episódio do CFO Evolution Cast, que contou com a presença de Alexandre Freire, CEO da startup Campeia Tecnologia e VZoom Carsharing marketplace.
Segundo Freire, o blockchain é um caminho sem volta, embora a maioria das pessoas não entenda para onde essa tecnologia vai nos levar.
Do ponto de vista empresarial, uma coisa é certa: a relação comercial, administrativa e de segurança é ampliada. Esses processos saem do âmbito computacional para um âmbito de blockchain, cuja segurança vem de fora para dentro, e não de dentro para fora, explica Freire.
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