A inteligência artificial e a auditoria forense: como coexistir ao mesmo espaço-tempo?

a IA e o homem

A era digital trouxe consigo uma revolução nas formas como lidamos com informações, dados e processos investigativos. Entre as inúmeras inovações, a inteligência artificial (IA) se destaca como uma ferramenta poderosa, capaz de transformar diversos setores, incluindo o campo da auditoria forense. Este artigo explora a fascinante interseção entre a IA e a auditoria forense, investigando como essas duas disciplinas podem coexistir e se complementar. Ao mesmo tempo em que a auditoria forense busca desvendar fraudes e irregularidades através de métodos tradicionais e analíticos, a inteligência artificial oferece novas possibilidades de detecção e prevenção, ampliando a capacidade de análise e a precisão dos resultados.

Fundamentos da IA

A IA é um campo multidisciplinar que combina matemática, estatística e ciência da computação, e se concentra na criação de sistemas capazes de realizar tarefas que normalmente requerem inteligência humana. Isso inclui uma variedade de habilidades, como aprendizado, raciocínio, percepção, linguagem natural e tomada de decisões. Aqui estão os principais fundamentos da IA:

Aprendizado de Máquina (Machine Learning):

  • Supervisionado: treinado com dados rotulados para prever resultados em novos dados.
  • Não supervisionado: encontra padrões em dados não rotulados.
  • Reforço: aprende com tentativa e erro, recebendo recompensas ou penalidades.

Redes Neurais Artificiais:

  • Inspiradas no cérebro humano, compostas por camadas de neurônios.
  • Tipos incluem Redes Feedforward, Convolucionais (CNNs) para visão computacional e Recorrentes (RNNs) para processamento de sequências.

Processamento de Linguagem Natural (NLP):

  • Análise de sentimento: determina emoções em texto.
  • Geração de linguagem: cria texto semelhante ao humano.
  • Tradução automática: tradução entre idiomas.
  • Reconhecimento de fala: converte fala em texto.

Visão Computacional:

  • Detecção de objetos: identifica e classifica objetos em imagens.
  • Segmentação de imagem: divide imagens em segmentos distintos.
  • Reconhecimento facial: identifica pessoas a partir de imagens faciais.
  • Sistemas especialistas: simulam a decisão de especialistas humanos em domínios específicos usando uma base de conhecimento e um mecanismo de inferência.

Raciocínio e Inferência:

  • Lógica difusa: lida com incerteza e imprecisão.
  • Redes Bayesianas: modelam probabilidades e dependências entre variáveis.

Robótica:

  • Planejamento de movimentos: determina o melhor caminho para robôs.
  • Percepção: utiliza sensores para interpretar o ambiente.
  • Controle e navegação: gerencia movimento e direção de robôs.

Ética e IA:

  • Privacidade e segurança de dados: protege dados usados e gerados pela IA.
  • Viés e equidade: evita preconceitos nos algoritmos.
  • Impacto no emprego: considera efeitos da automação no mercado de trabalho.

Histórico: a auditoria forense antes da IA

Tradicionalmente, a auditoria forense envolvia processos manuais intensivos e demorados. A auditoria forense era conduzida manualmente, com profissionais examinando documentos físicos, realizando entrevistas e cruzando informações de maneira demorada e suscetível a erros humanos. Esse processo demandava muito tempo e esforço, além de estar sujeito a falhas como interpretações equivocadas ou omissões acidentais.

Para compreender plenamente o impacto da IA, é útil considerar como a auditoria forense era conduzida antes dessa tecnologia:

  • Coleta de dados: auditores forenses reuniam informações de diferentes fontes, incluindo registros financeiros, documentos físicos, e-mails e outros arquivos eletrônicos. Esse processo era frequentemente moroso e sujeito a erros humanos.
  • Análise manual de dados: os auditores revisavam meticulosamente os documentos em busca de irregularidades e sinais de fraude. Isso exigia um grande número de horas de trabalho e um nível significativo de expertise.
  • Entrevistas e investigações: realizar entrevistas com funcionários e outras partes envolvidas era uma parte crucial do processo, ajudando a identificar comportamentos suspeitos ou anômalos.
  • Comparação de padrões: a detecção de fraudes dependia da capacidade dos auditores de reconhecer padrões anômalos ou inconsistentes nos registros financeiros. Este trabalho era, em grande parte, baseado na experiência e intuição dos profissionais.

A introdução da IA na auditoria forense

A introdução da IA na auditoria forense permite automatizar tarefas repetitivas e analisar grandes volumes de dados com rapidez e precisão, ajudando a identificar padrões e anomalias, reduzindo o tempo de investigação e minimizando erros. Aqui estão alguns dos principais impactos:

Detecção de fraudes:

  • Análise preditiva: algoritmos de IA podem analisar padrões históricos de dados e prever possíveis fraudes, permitindo uma abordagem mais proativa.
  • Machine learning: modelos de aprendizado de máquina são treinados para identificar fraudes com base em grandes conjuntos de dados, melhorando continuamente sua precisão com o tempo.

Análise de dados em grande escala:

  • Big data: a IA é capaz de processar e analisar enormes volumes de dados de maneira rápida e eficiente, algo que seria impraticável manualmente.
  • Text mining: ferramentas de mineração de texto extraem informações relevantes de documentos não estruturados, como e-mails e relatórios, que anteriormente exigiam revisão manual.

Automação de processos:

  • RPA (Robotic Process Automation): robôs de software automatizam tarefas repetitivas, como a verificação de transações financeiras, liberando os auditores para focar em análises mais complexas e estratégicas.
  • Análise de transações em tempo real: a IA pode monitorar transações em tempo real e sinalizar atividades suspeitas instantaneamente, permitindo uma resposta rápida.

Melhoria na precisão e velocidade das investigações:

  • Reconhecimento de padrões: algoritmos de IA identificam padrões complexos em dados que podem passar despercebidos pelos humanos.
  • Análise forense digital: ferramentas de IA auxiliam na rastreabilidade de fraudes cibernéticas e outros crimes digitais de maneira mais eficiente e precisa.

Redução de custos:

  • Eficiência operacional: a automação de várias tarefas reduz o tempo e os custos associados à realização de auditorias forenses.
  • Prevenção proativa: a detecção precoce de fraudes evita perdas financeiras maiores, resultando em economias substanciais a longo prazo.

Desafios e considerações:

  • Qualidade dos dados: a precisão das análises de IA depende da qualidade dos dados alimentados nos sistemas. Dados incompletos ou incorretos podem comprometer os resultados.
  • Interpretação dos resultados: auditores devem entender como os algoritmos chegam às suas conclusões para evitar mal-entendidos e garantir a confiabilidade das investigações.
  • Segurança e privacidade: a utilização de IA deve respeitar rigorosamente as normas de privacidade e segurança de dados, especialmente em contextos legais e regulatórios.

Interpretação dos resultados gerados

A interpretação dos resultados gerados pela IA pode ser complexa e requer um exame humano cuidadoso para evitar conclusões equivocadas ou vieses nos relatórios finais. No Brasil, o tratamento de dados pessoais é regido pela Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), que define normas para a coleta, armazenamento, utilização e divulgação de informações individuais. A conscientização sobre a importância da proteção de dados tem crescido, impulsionando a adoção de boas práticas e a busca por soluções tecnológicas que auxiliem na conformidade com a legislação vigente.

Benefícios da IA na auditoria forense

Com a evolução da IA, a auditoria forense está se beneficiando da automatização de processos, análises mais precisas e detecção mais eficiente de fraudes. Ferramentas de IA permitem aos profissionais realizar investigações de forma mais eficaz, identificando padrões complexos e analisando grandes volumes de dados. O deep learning, uma modalidade de IA, transforma significativamente a auditoria, examinando dados não estruturados como e-mails, postagens de redes sociais e gravações de áudio de reuniões online. Utilizando redes neurais artificiais, o deep learning aprende e executa tarefas complexas, permitindo análises mais completas e assertivas.

Conclusão

Com o desenvolvimento contínuo de novas tecnologias e técnicas, a IA está se tornando cada vez mais sofisticada e integrada em diversos aspectos da vida e dos negócios. Portanto, para que a inteligência artificial e a auditoria forense funcionem juntas de maneira eficaz, é essencial que os profissionais da área usem essas tecnologias de forma ética, assegurando a integridade e a confiança nas investigações, além de proteger a privacidade e a segurança dos dados. A combinação da expertise humana com as capacidades da IA pode melhorar a qualidade e a eficiência das auditorias forenses, facilitando a identificação e a prevenção de fraudes. Essa integração ocorre através da união das habilidades analíticas avançadas da IA com o discernimento e a supervisão dos auditores, garantindo que as ferramentas tecnológicas sejam empregadas de maneira responsável e conforme as melhores práticas do setor.

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Marina Santos

Marina Santos é internacionalista e assistente de auditoria II na Moore.